Leo Eyer, o criador que navega pelos sete mares do design

2014-750442206-2014091045994.jpg_20140910

Confira na integra a matéria com o nosso querido Leo Eyer, sócio da Movin’, sobre o Wired by Design 2014 no O Globo.

Único brasileiro entre os 250 participantes do Wired by Design, na Califórnia, o carioca investe em produtos que unam brasilidade e inovação
por Marcella Sobral – O Globo – 28/09/2014

RIO – Nesta segunda-feira, na cidade californiana de Sausalito, mais precisamente na sede do estúdio Lucasfilm, a cultuada revista norte-americana “Wired” dará início à primeira edição do Wired by Design, uma espécie de retiro criativo que reunirá 250 pessoas de todo o mundo, de diferentes profissões, para trocar impressões e experiências sobre música, gastronomia, arquitetura e qualquer outro tipo de questionamento criativo que venha a surgir durante os três dias do encontro. Entre os participantes, apenas um brasileiro: Leo Eyer. O curioso foi que, para estar entre profissionais como Yves Béhar, designer e CEO da Fuseproject, e Sarah Greenberg, diretora da Stanford Design School, ele não mandou nadinha de seu portfólio. A “prova” foi responder a cinco questões simples como “por que você tem amor pela sua profissão?”
Veja Também
Galeria Os trabalhos de Leo Eyer

– Não preparei nada, nem mandei. Foi completamente passional – lembra Leo, que esperou três meses pela resposta. – Já tinha até relaxado.

DESIGN PARA SHOWS DE MÚSICA

Leo é um cara tranquilo, mas isso não quer dizer que esteja parado. Conduz com tranquilidade projetos de diversas naturezas, todos ao mesmo tempo, porém sem perder a empolgação e o sorriso. É nessa onda que toca sua carreira.

O diploma de designer gráfico serve hoje como apoio de moldura na decoração da parede de seu escritório no Jardim Botânico.

– Numa época de imediatismo, o Leo caminha incansavelmente até atingir seus objetivos – conta o artista visual Batman Zavareze, amigo desde a faculdade e parceiro em vários projetos. – Temos um “filho” juntos, o Festival Multiplicidade, que tem uma comunicação visual muito forte.

À frente da Bold, a empresa de design criada há seis anos, Leo navega por mares bem diversos, que vão desde o redesenho da marca do Matte Leão, passando pelo projeto AR de empreendedorismo social, desenvolvido de forma colaborativa num processo que reuniu nove favelas no ano passado, até o design digital de shows de Marisa Monte e Paralamas do Sucesso, parceria com Batman e Billy Bacon.

– Design hoje é um processo para atingir um objetivo – diz, certo de que não há mais uma linha dividindo as vertentes da profissão. – Você pode projetar qualquer coisa, de um produto a um serviço, a uma comida ou a uma experiência gastronômica. Quando um chef prepara um menu, ele pensou muito naquilo. O resultado é fruto de um projeto de design, mesmo que feito de forma intuitiva. É uma experiência que, quando acertada, atinge em cheio o emocional do consumidor.

Publicidade

Prestes a completar 20 anos de carreira em 2015, o carioca Leo se prepara para lançar sua primeira linha de móveis, em parceria com a Schuster, na DPot, em São Paulo.

– É uma linha de móveis com sistema modular que usa apenas cinco peças para construir toda a coleção – conta Leo, que apresentou o trabalho na Rio+Design, em Milão. Durante a Semana Design Rio, em novembro, no Jockey Club, lançará ainda cinco novos produtos.

Atualmente, os objetos têm sido um dos focos principais do escritório, pois Leo acredita que podem alavancar toda uma cadeia criativa:

– Não tem muitos brasileiros pensando em desenvolver objetos que vendam brasilidade com inovação e que mostrem que aqui não é aquela selva de macacos do estereótipo. Modéstia à parte, nós sabemos desenvolver produtos bacanas. Conseguimos também entender o perfil do público consumidor desses produtos e não apenas desenhar esses artigos, mas também seu posicionamento, sua estratégia, comunicação e experiência. Isso faz a diferença.

Uma das suas últimas criações, premiada pelo IF Design Awards, na Alemanha, tem todas essas características. Inspira-se nas embalagens em que normalmente os limões são vendidos e agrega design, inovação e praticidade para o dia a dia. A linha Lemon, de sacolas de silicone fechadas por ímãs, será apresentada durante a sua viagem e lançada até o final do ano no Brasil e no exterior.

LINHA DE UTENSÍLIOS BIODEGRADÁVEIS

Outra de suas criações é a linha Combine, de utensílios biodegradáveis para comida. Vencedora do Prêmio Museu da Casa Brasileira, ela é produzida com uma combinação de fibra de bambu com casca de arroz e está sendo fabricada na China.

– Não conseguia fazer nada aqui. Fico muito desapontado porque vejo outros países com o design e a indústria caminhando juntos, e a gente não. Tem havido esforços pontuais, mas uma política nacional é fundamental para desenvolver o design e o país como um todo – diz Leo, certo de que esse caminho alavanca negócios, não custos. – O que a gente faz é trazer indústria de fora, mas não aproveita isso para desenvolver a inteligência da nossa própria atividade. Hoje nós só somos conhecidos pelas Havaianas. Poderíamos ter muitas outras marcas e designers conhecidos e respeitados internacionalmente. Qualidade criativa, temos de sobra.

O jovem que trabalhava na White Martins fazendo o design de manuais e relatórios foi parar em Nova York bem na época do surgimento do grunge. Cursou a School of Visual Arts, voltou para o Brasil se achando o rei da cocada preta… e se deu mal. Com um portfólio que devia pesar uns 60 quilos, “com tudo impresso e colorido”, ele foi a tudo que era escritório de design e sempre ouvia a mesma resposta.

Publicidade

– Diziam que eu era designer de computador e, naquela época, tinha um preconceito absurdo. Era tipo micreiro – conta Leo, que sonhava em trabalhar numa revista. – As coisas estavam mudando, e os escritórios aqui ainda não estavam preparados.

Hoje as mudanças acontecem de forma ainda mais rápida.

– Nossa função é muito mais estratégica. Um projeto precisa de cabeças multidisciplinares, diferentes. A troca é muito rica. Se você quer desenhar um copo, é muito melhor juntar um sociólogo, um cliente e um designer do que seis designers.

Leia a matéria na integra em: http://oglobo.globo.com/rio/leo-eyer-criador-que-navega-pelos-sete-mares-do-design-14068409